Por Nice Almeida
No vocabulário da vida, amigo (ou amiga) é aquele irmão gerado em outro útero materno, mas que a sua alma reconhece assim que o vê pela primeira vez. No primeiro encontro, é possível reconhecer aquela alma afim, muito conhecida pela expressão ‘alma gêmea’ e que uma multidão confunde com relações amorosas, mas não se limitam a isso, pois essa afinidade, essa ligação, tem muito mais a ver com uma verdadeira amizade.
Sempre foi esse meu entendimento sobre ter amigos. Tanto que me chocou o dia em que ouvi pela primeira vez de alguém a afirmativa: “eu não tenho amigos”, “esse negócio de amizade não existe!”. Me assustou ainda mais o orgulho com que as frases foram proferidas. Era como se aquela sim fosse uma escolha perfeita.
Para o meu raciocínio, não há lógica nenhuma passar pelo mundo sem fazer amigos e aquilo me entristeceu profundamente. Nossa! Como deve ser triste e solitária a vida de quem não sabe o que é ter alguém para chamar de amigo. Quantas sombras devem cobrir a visão e quanto barulho interromper a audição dos que acreditam viver bem longe das mais belas amizades.
Achei eu que jamais compreenderia tal conceito de vida. Até ler o livro ‘Vencendo a culpa, o medo e a depressão’, dos autores Fátima Delgado, Emmanuel Chácara e Jorge Elarrat. A obra me foi presenteada por uma grande amiga.
No capítulo ‘Vencendo a culpa’, Emmanuel Chácara me surpreendeu positivamente com o item ‘Medo de fazer amigos’. Meus olhos se arregalaram, talvez tenham brilhado com a expectativa de que agora sim encontraria a explicação para aqueles que creem ser felizes longe do amor dos bons amigos.
Não foi bem assim! Emmanuel não trás uma explicação sobre os motivos de termos medo de fazer amigos. No entanto, ele vai dissertando, ao longo de todo o capítulo, os porquês desse sentimento que nos bloqueia e nos priva de viver situações de muita alegria, assim como abraçar um bom e velho (ou novo) amigo.
Chácara ressalta a necessidade de conhecer a si mesmo, invadir o próprio íntimo para descortinar as razões do medo, domar esse sentimento e se libertar dos seus excessos, consciente de que ele sempre estará presente, pois faz parte do nosso instinto de conservação, porém, fazendo com que o medo não mais nos domine.
Daí por diante, celebraremos as oportunidades de desfrutar das mais belas amizades que, segundo o dicionário da língua portuguesa, é um “sentimento de grande afeição, simpatia, apreço entre pessoas ou entidades”. No dicionário do Cristo, é uma das maiores representações de amor entre os seres humanos.
Emmanuel Chácara nos rememora as palavras doces de Jesus quando no capítulo 15 do livro de João Evangelista, na Bíblia, Ele diz, no versículo 15:
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”.
Chácara completa citando o seu xará Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier, que no livro ‘Convivência’ nos revela: “[Jesus] articulou a vida de tal modo, que ninguém constrói algo sem a cooperação de alguém”.
Emmanuel Chácara acrescenta a sua visão sobre a definição de amigo: “Amigos são, pois, alavancas de sustentação em nossas vidas, e, por isso mesmo, precisamos valorizá-los, para que não falte o concurso deles no momento certo. A amizade permite que sejamos cirineus uns dos outros”.
Essa leitura me fez muito feliz por comprovar que estou certa. Não certa no sentido de querer diminuir aquele que me disse não querer amigos. Certa no sentido de que estou no caminho certo quando compreendo que viver sem amigos seria o mesmo que cair em um poço muito profundo e escuro, ver uma escada e decidir não subir de volta à luz, à convivência com os grandes amigos.
A respeito desse assunto, lembrei-me de uma música linda de Renato Teixeira. O poeta das canções descreve perfeitamente o sentido essencial de uma “Amizade sincera, santo remédio, abrigo seguro”.
Sempre que ouço essa canção passa um filme em minha mente relembrando todos os meus grandes irmãos de alma, meus amigos. Ah, como sou feliz por tê-los! Se eles ainda não sabem o quanto são importantes para mim, que o saibam agora! A cada abraço, a cada aperto de mão, a cada sorriso, se for preciso, conte comigo, amigo disponha. Lembre-se sempre que mesmo modesta, minha casa será sempre sua, amigo!
Deixo aqui o link para que vocês possam desfrutar dessa bela poesia. Ofereço essa música a todos os meus melhores amigos. Alguns, a vida me levou a estar um tanto ausente. Outros, estão, atualmente, no meu dia a dia. Todos me trazem luz e escrevem comigo a história da minha vida.

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