O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), tem protagonizado, nos últimos dias, debates que colocam em xeque sua capacidade de articulação e sua imagem política. À frente da chamada PEC da Blindagem, que dificulta o avanço de processos contra parlamentares e amplia o foro privilegiado, e do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, Motta tenta equilibrar interesses de diferentes grupos. Mas o resultado pode estar lhe custando mais desgaste do que apoio.
Na defesa da PEC, Motta argumenta que se trata de uma “retomada” de prerrogativas constitucionais, evitando abusos contra o Parlamento. Já sobre a anistia, reconhece não haver ambiente para uma medida “ampla, geral e irrestrita”, embora admita revisões de penas consideradas excessivas. Essa postura ambígua, porém, tem alimentado críticas: para setores da opinião pública, soa como tentativa de proteger privilégios e fragilizar a responsabilização por crimes.
Os números refletem esse cenário. Pesquisas recentes indicam que Motta é um dos políticos mais rejeitados do país, com índices que ultrapassam 70% de avaliação negativa. Ao mesmo tempo, internamente, ele ainda desfruta de prestígio: quase 70% dos deputados avaliam sua gestão como positiva. Essa contradição revela a distância entre o apoio no Congresso e a desaprovação popular.
Na Paraíba, sua base eleitoral, o quadro também é delicado. Embora pesquisas em Patos mostrem que parte do eleitorado gostaria de vê-lo candidato ao governo em 2026, há sinais de que aliados locais começam a rever o apoio. O risco é que o desgaste nacional respingue no estado, afetando sua imagem e dificultando projetos maiores. O espólio eleitoral que herdou da família e consolidou em eleições proporcionais pode não ter a mesma força no pleito do próximo ano.
Nacionalmente, Motta se tornou um dos rostos mais associados ao chamado “Congresso da blindagem”, alvo de críticas intensas nas redes sociais. O desafio será converter a visibilidade do cargo em resultados concretos para o país e para a Paraíba. Caso contrário, a presidência da Câmara, em vez de trampolim, pode se transformar em fardo em sua trajetória política.
