Por Nice Almeida
O grupo sentou-se ao redor dele. No coração de cada um ali, os mais doces sentimentos de solidariedade e fraternidade. Uniram-se no intuito de transmitir àquele pai em desespero a caridade tal qual Jesus exemplificou, a baseada na benevolência, indulgência e perdão das ofensas.
E se a intenção era essa, a palavra do Cristo deveria ser a estrela da noite. E foi! Depois, cada um tentou expor aquilo de que seus corações estavam cheios… amor. Foram muitas as palavras, quase que em coro, para demonstrar as várias mãos estendidas levando a certeza de que ele não estava sozinho na sua dor.
Ele ouviu atento e depois se deu a oportunidade de falar, expressar ao menos minimamente, o que mais o machucava. A confissão, admito, me causou surpresa. O que mais tem doído nele é o estigma lançado sobre o seu filho, morto, sem direito de defesa.
A mídia sensacionalista o preencheu de revolta. Ela não perdoou na hora de julgar, sem conhecer. Não teve caridade. Apontou todos os dedos e levantou sua voz carregada de uma palavra assustadora: preconceito. Deduziu em termo injusto que se a vítima vivia em comunidade e foi brutalmente assassinado da maneira que foi, provavelmente deveria estar envolvido com o mundo do crime.
Não estava! Garante o pai com certeza absurda de quem conhecia sua cria amada. Continuou seu desabafo. Citou a mágoa por ter visto a reputação do filho ser jogada no ralo, sem que nada pudesse ter sido feito para defendê-lo.
Rapidamente me transportei para o capítulo 7 do livro ‘Educação para a vida – para o saber virar sabedoria’, de Vinícius Lima Lousada, escritor espírita. O título se encaixou perfeitamente no sentimento do pai arrasado. ‘A insensatez do preconceito’.
“A criatura intelectualizada que descobre a cura de enfermidades e que legisla em prol da justiça social também fomenta armas químicas, produz desigualdades e cultiva preconceitos”, diz Lousada. Intelectualizada, porém, não moralizada, não é mesmo meu querido autor, que me encantou com sua escrita real e altamente reflexiva.
Tristeza! É esse o sentimento a me abater naquele instante em que me coloco no lugar do amigo ferido. Quanto tenho alimentado o desejo de mudança nesse campo da sociedade com o poder de formar opiniões e que tem desperdiçado a oportunidade de o fazer para o bem e para o fim dos preconceitos.
Lousada segue na profunda reflexão: “Aprendamos e a conviver respeitando as diferenças, rompendo qualquer concepção de racismo, sexismo, fundamentalismo religioso ou político. Optemos, no espaço público, pelo diálogo, pela multiculturalidade, pelo ecumenismo, pela diversidade étnica, pelo pluralismo…”.
No resumo de um parágrafo, o entendimento da palavra sabedoria que tanto me chamou a atenção, e o sonho ainda mantido firmemente sobre o dia em que compreenderemos essa mensagem tão necessária neste momento da humanidade, que se preenche de violência.
O bem chegará, mas só será possível no dia em que formos nós esse bem. No dia em que nunca mais colocarmos a lança do preconceito no peito de um pai ou uma mãe que, assim como meu amigo, chora a sua perda trágica e inexplicável, tendo que suportar, além de tudo isso, a ira do preconceito.















