A terapeuta da Sala 6 - André Gomes
Siga nas redes sociais

Nota

A terapeuta da Sala 6

Por Nice Almeida

Foi em um encontro rápido, durante reunião de amigos, que ela me falou pela primeira vez que estava terminando de escrever um livro. Não me lembro de ter perguntado sobre o teor específico da obra, só me recordo que já fui respondendo que certamente iria querer um, logo que estivesse pronto.

Meses se passaram e eu até já havia esquecido aquela conversa quando um amigo em comum noticiou-me que a obra havia sido concluída e me perguntou se eu iria querer. Nem pisquei os olhos. A resposta era óbvia: lógico que eu queria!

O livro chegou em minhas mãos na segunda-feira, dia 8 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição, data em que os paraibanos também celebram Iemanjá. Já eram 21h quando cheguei em casa com o exemplar nas mãos. Iniciei a leitura naquela noite mesmo. Tive pressa.

A descoberta veio logo no título:

‘A terapeuta da Sala 6’ – o silêncio da violência. Histórias de mulheres fragmentadas entre a dor e a liberdade. Um romance clínico-literário que expõe o lado invisível da violência’.

O coração disparou e, como costumo dizer, as carnes tremeram. Não posso negar, tive medo de abrir aquelas páginas. Mas, já tem um tempo que venho aprendendo a não me deixar dominar por esse sentimento aprisionador. Abri, e comecei a encarar de frente meus próprios demônios.

Lógico, faço isso porque há anos sou paciente de uma sala terapêutica e já me sinto capaz de olhar nos olhos de algumas de minhas dores.

Juliana Nogueira, a autora, é psicóloga (não a minha). Como mulher e grande profissional que é, teve a sensibilidade de colocar um aviso importante logo na “entrada” do seu livro.

AVISO DE CONTEÚDO SENSÍVEL.

“Este livro aborda temas delicados como violência psicológica, física e patrimonial, traumas, abuso sexual e relações familiares marcadas pela dor”.

O aviso me despiu. Ainda é muito difícil falar – mesmo depois de anos de terapia -, mas Juliana parecia me descrever na primeira frase do ‘alerta de gatilho’.

Respirei fundo! Iniciei a leitura. Pausa – pensei no que escreveria daqui para frente… o corpo responde a cada pedaço de história entregue por Juliana. A autora me transmite muita sensibilidade, não a conheço em profundidade, mas sei que sensibilidade é próprio dela não apenas enquanto profissional, mas também como pessoa.

Para além dos gatilhos, a obra tem desvelado outros momentos da vida em que eu nem sabia que tinha sido vítima de violência e, somente agora, com a leitura, paro para refletir como aquelas histórias são idênticas a algumas já vividas por mim.

Quantas mulheres estão sendo vítimas de violência sem se dar conta, porque a nós foi ensinado, equivocadamente, que agressão é somente a física, aquela que deixa marcas no corpo.

Juliana vem e me diz claramente em ‘A terapeuta da Sala 6’ que não é assim. A violência invisível deixa hematomas na alma. Não é uma novidade para mim, na verdade, mas a forma como ela traz isso à tona impulsiona a reflexão com profundidade.

“Quando decidi escrever sobre violência, sabia que não falaria apenas de corpos feridos, mas de almas silenciosamente rompidas”.

“É um tipo de violência que nem sempre aparece nos boletins de ocorrência…”

“Porque há violências que não quebram o corpo – mas desfiguram a alma”.

Eu recomendo a leitura, especialmente para algumas mulheres que nem conseguiram ainda entender serem vítimas. Nos detalhes, você enxergará, descobrirá e, quem sabe, se libertará.

Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

sete + 16 =

Publicidade
Publicidade

Notícias relacionadas

Nota

Por Nice Almeida Nunca fui muito dada aos números. Sendo assim, não paro a observar quantidades exatas, prefiro olhar histórias. Ali, a contabilidade também...

Nota

Em um movimento político de grande impacto para as eleições de 2026 na Paraíba, o presidente da Assembleia Legislativa estadual, Adriano Galdino (Republicanos), anunciou...

Nota

Por Nice Almeida Não é incrível como nossa mente, vez por outra, resgata memórias que você nem imagina, continuam ali guardadinhas? Nem sei o...

Nota

Por Nice Almeida O grupo sentou-se ao redor dele. No coração de cada um ali, os mais doces sentimentos de solidariedade e fraternidade. Uniram-se...

Copyright © 2023 Feito com JS Dev.