Ter um animal de estimação é o sonho de muitas crianças, e o período do Natal costuma levar alguns pais a transformarem esse desejo em realidade. No entanto, a decisão impulsiva contribui para um cenário preocupante: cerca de 4,8 milhões de cães e gatos vivem em situação de vulnerabilidade no Brasil, segundo dados do Instituto Pet Brasil. Historicamente, os meses de dezembro e janeiro registram aumento significativo nos casos de abandono, justamente após o período das festas de fim de ano.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB) alerta que animal não é presente e destaca que, embora a ideia de presentear com um pet possa parecer um gesto de carinho, a falta de planejamento pode gerar dificuldades para os tutores e sofrimento para os animais. Um animal de estimação exige tempo, atenção diária, cuidados veterinários, alimentação adequada e responsabilidade durante toda a sua vida. Quando a família não está preparada para essa rotina, aumentam consideravelmente os riscos de negligência e abandono.
Segundo o presidente do CRMV-PB, José Cecílio, é fundamental mudar a forma como a sociedade enxerga a adoção de animais, especialmente em datas comemorativas. “Animal não é presente. Ter um pet é assumir uma responsabilidade. É preciso também educar as crianças desde cedo sobre os cuidados com os animais, mostrando que eles são seres vivos, que sentem, precisam de atenção e dependem totalmente dos adultos”, enfatizou.
Os médicos-veterinários, segundo José Cecílio, não são contra a convivência entre crianças e animais, muito pelo contrário. “É uma das formas mais bonitas de ensinar empatia, responsabilidade e respeito ao outro. No entanto, é importante destacar que a criança não pode ser a única responsável pelo pet. Cabe ao adulto supervisionar, orientar e, muitas vezes, executar os cuidados necessários”, destacou.
O médico-veterinário Jonata Bento, conselheiro do CRMV-PB, ressalta que a guarda responsável envolve uma série de cuidados contínuos. “Antes de adotar um animal, é preciso planejamento financeiro, verificar se há tempo para os cuidados diários, espaço adequado e uma rotina familiar compatível. Cuidar de um pet vai muito além do carinho: envolve alimentação correta, vacinação, vermifugação, acompanhamento veterinário, atenção emocional e compromisso por toda a vida do animal”, explicou.
Entre os principais motivos para evitar presentear um animal sem planejamento estão a ausência de consentimento e preparo do futuro responsável, o que compromete o bem-estar do animal e gera conflitos imediatos. A guarda exige compromisso duradouro, incluindo vacinação, alimentação adequada, manejo sanitário, socialização e acompanhamento veterinário contínuo.
A adoção por impulso eleva significativamente o risco de abandono ou devolução, especialmente quando a rotina, o espaço ou as condições financeiras da família não comportam um novo integrante. Além disso, a negligência pode impactar a saúde pública, com risco de disseminação de zoonoses e agravamento da situação de animais em condição de rua.
A Lei nº 14.064/2020, conhecida como Lei Sansão, estabelece pena de reclusão, multa e outras sanções para casos de maus-tratos e abandono de animais, reconhecendo a responsabilidade legal inerente à guarda.
“A introdução de um animal em qualquer família deve ser resultado de reflexão responsável, compromisso ético e respeito às determinações legais que protegem o bem-estar animal. O Conselho orienta que decisões envolvendo adoção ou aquisição de pets, especialmente em períodos simbólicos como o fim de ano, sejam tomadas com maturidade, informação e plena consciência das obrigações envolvidas”, disse José Cecílio.















