A pandemia do coronavírus provocou mudanças bruscas na rotina e aumentou o estresse, provocando agravamento de transtornos alimentares como compulsão, anorexia e bulimia. Uma pesquisa realizada pela Northumbria University, de Newcastle, na Inglaterra, revelou que nove entre dez pessoas com a experiência de transtornos alimentares tiveram situação agravada neste período.
O transtorno mais comum durante o isolamento é a compulsão alimentar periódica, que pode evoluir para bulimia nervosa. A psicóloga do Sistema Hapvida em João Pessoa, Rafaela Amorim, explica que ansiedade, estresse, depressão são alguns dos sofrimentos vivenciados pela sociedade diante do novo cenário e isso contribui para o desenvolvimento ou agravamento dos transtornos alimentares.
“A ansiedade pelo que está por vir, o medo, a solidão provocada pelo isolamento social, sendo estes principais fatores relacionados à vivência de um estresse que tem se prolongado, fazem com que os indivíduos busquem uma forma de alívio das tensões. No sentido mais imediato, muitos encontram na comida uma solução prática para isto, por ser uma fonte rápida de prazer. Com isso, se aumenta a ingestão de comidas gordurosas e gratificantes, como doces e carboidratos, trazendo uma série de prejuízos à saúde dos indivíduos”, explica.
O prato do brasileiro mudou durante o confinamento com a pandemia, devido a maior utilização do delivery e idas menos constantes a feiras e mercados. Segundo o Ministério da Saúde, quase metade dos brasileiros afirmou ter mudado os hábitos alimentares durante o confinamento. No País, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 4,7% da população sofre algum tipo de transtorno de compulsão alimentar.
Segundo a OMS, os transtornos alimentares se caracterizam por um conjunto de doenças de origem psicológica, ambiental, genética ou até mesmo hereditária. Rafaela ressalta que a instabilidade atual, que influencia no comportamento alimentar, tem contribuído para os indivíduos comerem demasiadamente, mesmo sem sentir fome – em alguns casos provocando o vômito (bulimia) – ou até mesmo restritivamente, contribuindo para o surgimento de transtornos como anorexia. “Muitas vezes essa compulsão é acompanhada por sentimentos de culpa, frustração e arrependimento, favorecendo a piora do estado de estresse e novamente a busca por alívio, contribuindo para a falta de controle e o surgimento de uma relação nociva com o alimento”, destaca a especialista.
Identificando sintomas
A psicóloga do Sistema Hapvida assegura que quando identificado os sintomas é fundamental que se busque ajuda especializada, envolvendo acompanhamento psicológico para identificação das emoções, pensamentos e sensações que estão envolvidos no comportamento alimentar do indivíduo. “Identificando os gatilhos que geram tais comportamentos e auxiliando na busca por mudança da relação deste com a comida, melhora na relação com os fatores que geram o comportamento compulsivo e a adoção de hábitos mais adaptativos”, pontua.
Além disso, ela reforça que a busca por outras estratégias de adaptação e enfrentamento aos desconfortos da pandemia se faz fundamental. “Buscar atividades adaptativas e prazerosas, que contribuam para o bem estar, como se conectar com a família, amigos, praticar atividades relaxantes e exercícios físicos, leituras, música e filmes também são fontes gratificantes, enfim, descobrir outras formas saudáveis de lidar com a questão”, orienta.